quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

UM SHOW DE FORMATURA


            - Duzentos e cinqüenta e sete reais e sete centavos, este é o salário de um professor da UFRGS com contrato de vinte horas de trabalho- bradava no microfone, com o contracheque na mão, Carlos Gerbase, o paraninfo da turma da Comunicação na formatura de 1996. A seguir, anunciou, publicamente, a sua demissão. Podia ser uma cena de um filme seu, mas era a mais pura realidade que se apresentava à uma platéia que lotava o Salão de Atos da UFRGS no dia 12 de outubro de 1996.
             Foi apenas uma das cenas de uma formatura que entrou para a história da UFRGS. Turminha criativa aquela dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Relações Publicas. Não se preocupou muito com convite fresco, pompa e circunstância. Transformaram o que seria mais uma enfadonha, previsível e choraminguenta cerimônia de colação de grau num divertido espetáculo.
            Com formato de show televisivo, o ator Jorge André ancorava o espetáculo personificando Silvio Santos. Maravilhoso, não deixou a peteca cair, como costuma fazer o velho SS. Também, com o elenco e o script que dispunha, foi moleza. Na esteira do paraninfo houve manifestação contra o racismo na universidade e homenagem ao cantor Renato Russo, falecido na véspera. No quadro “Namoro na TV”, João Pedro e Simone, colegas de turma e apaixonados de longa data, anunciaram seu noivado. De fato e de direito.
            O show, digo, formatura, durou mais de três horas e o auditório permaneceu lotado, com uma platéia participativa que se deliciava com o espetáculo. Era criança soltando balão, vovó chorando de rir e pais estarrecidos com quadros como “Quer coisar comigo?”, “Strip-tease-virtual” e “Sorteio de tênis. O ápice aconteceu quando as lindas formandas brindaram o público com um concurso de dança da Macarena. A platéia só ficou um pouco desconcertada quando uma formanda foi cumprimentar um professor homenageado e ele tascou um beijão na boca da moça. Não sabiam que eram namorados (e estão casados até hoje).
            Obviamente, a coisa se tornou pública e notória e, no dia seguinte teve até nota no Informe Especial da Zero Hora. A reitora, ausente na cerimônia, imediatamente, baixou um decreto proibindo formaturas com formato semelhante. Se tivesse participado do show teria desopilado o fígado e ia acabar correndo prá galera. Não é mesmo, Lombardi?
            Eduardo Tavares (ex-professor...homenageado)

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