quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Aparados da Serra, Herança preservada

APARADOS DA SERRA, HERANÇA PRESERVADA

Minha paixão pelos Aparados da Serra precede à paixão pela fotografia. Comecei a 
descobrir as belezas da região em 1973 quando ainda era possível acampar no parque e fazer qualquer trilha, inclusive a travessia dos cânions. Em 1982, junto com o escritor Eduardo Bueno, atravessamos, durante três dias, o cânion do Itaimbezinho, na produção de uma reportagem. Saímos de lá extasiados, um tanto selvagens, resultado da interação com aquele ambiente natural exótico e do isolamento total da espécie humana.
Muitos anos depois, deduzi que devia ser essa mesma sensação que o Padre Balduino Rambo sentia cada vez que se embrenhava naqueles paredões em busca de novas espécies de plantas para o seu herbário. Era comum descer sozinho, apenas de batina, impulsionado pela obsessão científica e quase hipnotizado pelo ambiente. Graças a Rambo e seu espírito visionário hoje podemos conhecer esse ecossistema in natura e muitas espécies da fauna e flora  foram salvas da extinção. Foi o pioneiro que lutou pela criação do Parque Aparados da Serra, trabalhando, inclusive, na sua demarcação.
Com o objetivo de resgatar para as novas gerações e, porque não dizer homenagear, esse dois monumentos naturais, Rambo e os Aparados, a Unisinos em parceria com a Copesul promoveram a edição do livro “Aparados da Serra, na trilha do Padre Rambo”, o qual tive o prazer de ilustrar fotograficamente.
As fotos deste ensaio fazem parte desse livro e foram obtidas ao longo de quase quatro décadas, em todas as estações, caminhando, cavalgando ou voando. Os Campos de Cima da Serra nos presenteiam com as paisagens mais inusitadas e soberbas do Rio Grande do Sul e atraem visitantes de todo o planeta.
Não foi à toa que Rambo, um dos maiores cientistas que o Brasil já gerou, declarou certa vez: “Se possuo uma pátria no mundo, ela está no planalto calmo e sereno, à sombra dos pinheirais”.

Eduardo Tavares




segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

CAUSOS PHAROLÍSTICOS




A Gaiola da Liberdade

Um belo dia fui visitar o Zezinho Marrão, pescador do Pharol. Estava de conversa fiada quando me chamou atenção a grande quantidade de passarinhos que tinha dentro de uma gaiola. Com surpresa descobri que a portinha estava escancarada e logo alertei meu amigo para que os bichinhos não fugissem. Ao que ele me respondeu: é assim mesmo Dudu, a gaiola tá sempre aberta. Eu ponho comida dentro para eles virem me visitar e eu ficar olhando essa beleza.

Um passito más

Dois amigos argentinos decidiram passar alguns dias no Pharol, antes do casamento de um deles. Um dia, depois de uma tempestade, o mar terrivelmente agitado, eles foram passear no costão do morro do farol e o amigo quis tirar uma foto do noivo, um último registro da solteirice. Como estava difícil enquadrar o corpo inteiro o amigo  foi pedindo para o outro dar um “passito más atrás”. O noivo chegou muito perto das ondas, uma enorme estourou sobre ele e o levou para sempre. O casamento foi cancelado.

Julgamento sumário

Início da década de oitenta. O magrão mochileiro, cabelos longos, chegou no Pharol e desbundou. Fumou um baseado, achou que estava no Paraíso, era o Adão, tirou a roupa e foi tomar banho nú na Prainha. Não demorou muito a alta magistratura pesqueira se reuniu, tirou o magrão do mar, encheu o pobre de porrada e o despachou para a balsa com o status de “persona non grata”. Adão tinha errado o endereço.

Último suspiro

Um belo dia, uma mulher chega esbaforida no Posto de Medicamentos. O marido tinha tido um treco e foi buscar o farmacêutico para ajudá-lo. O rapaz examinou o homem e constatou que ele não respirava. Alguém sugeriu que ele fizesse respiração boca-a-boca e, prontamente, ele respondeu: -Tás loco que eu vou beijar homem! A mulher ficou viúva.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O PHAROL VIROU LIVRO



264 fotos emolduradas com textos apresentando este velhinho iluminado e a vida que o cerca: lindas praias, lagoas serenas, a história, a vila e seu povo, a pesca, o turismo, a ilha, o farol do inverno e do verão.

PRESENTES
As fotografias deste livro, tenho que confessar, não foram feitas por mim. Na verdade, elas me foram presenteadas. Eu apenas as guardei, colecionei com todo cuidado, como se fossem jóias herdadas.
Quem as fez, quem me presenteou? Não sei ao certo. A natureza, um Deus, a vida, a sorte, o espírito? Seria injustiça citar um ou outro. Acho que foi um trabalho de equipe. Eu só me lembro que os presentes apareciam a qualquer hora, em qualquer estação, em diferentes lugares. A única coisa comum neles era a presença de um farol. Quer fosse uma imagem de pedras, dunas ou relâmpagos, sempre tinha um farolzinho metido.
Eu apenas estava lá. De repente aparecia aquela imagem. Miraculosa, encantadora, sensibilizava tudo. Até os cristais de prata dos meus filmes e os censores digitais de minha cãmera. Eu virava menino, tudo ficava simples como uma brincadeira. A vida valia a pena, parecia pequena para tantos encantamentos. Quando despertava, olhava a coleção e mais uma imagem estava lá. Outro presente.
Agora, abro a caixa e mostro alguns dos presentes. São imagens cotidianas de um farol onipresente com nome de santa, a Marta. Fotografias simples, sem truques. Fragmentos da beleza que nos cerca todo dia. Basta colecionar.
                                                                                                      Eduardo Tavares

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

UM SHOW DE FORMATURA


            - Duzentos e cinqüenta e sete reais e sete centavos, este é o salário de um professor da UFRGS com contrato de vinte horas de trabalho- bradava no microfone, com o contracheque na mão, Carlos Gerbase, o paraninfo da turma da Comunicação na formatura de 1996. A seguir, anunciou, publicamente, a sua demissão. Podia ser uma cena de um filme seu, mas era a mais pura realidade que se apresentava à uma platéia que lotava o Salão de Atos da UFRGS no dia 12 de outubro de 1996.
             Foi apenas uma das cenas de uma formatura que entrou para a história da UFRGS. Turminha criativa aquela dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Relações Publicas. Não se preocupou muito com convite fresco, pompa e circunstância. Transformaram o que seria mais uma enfadonha, previsível e choraminguenta cerimônia de colação de grau num divertido espetáculo.
            Com formato de show televisivo, o ator Jorge André ancorava o espetáculo personificando Silvio Santos. Maravilhoso, não deixou a peteca cair, como costuma fazer o velho SS. Também, com o elenco e o script que dispunha, foi moleza. Na esteira do paraninfo houve manifestação contra o racismo na universidade e homenagem ao cantor Renato Russo, falecido na véspera. No quadro “Namoro na TV”, João Pedro e Simone, colegas de turma e apaixonados de longa data, anunciaram seu noivado. De fato e de direito.
            O show, digo, formatura, durou mais de três horas e o auditório permaneceu lotado, com uma platéia participativa que se deliciava com o espetáculo. Era criança soltando balão, vovó chorando de rir e pais estarrecidos com quadros como “Quer coisar comigo?”, “Strip-tease-virtual” e “Sorteio de tênis. O ápice aconteceu quando as lindas formandas brindaram o público com um concurso de dança da Macarena. A platéia só ficou um pouco desconcertada quando uma formanda foi cumprimentar um professor homenageado e ele tascou um beijão na boca da moça. Não sabiam que eram namorados (e estão casados até hoje).
            Obviamente, a coisa se tornou pública e notória e, no dia seguinte teve até nota no Informe Especial da Zero Hora. A reitora, ausente na cerimônia, imediatamente, baixou um decreto proibindo formaturas com formato semelhante. Se tivesse participado do show teria desopilado o fígado e ia acabar correndo prá galera. Não é mesmo, Lombardi?
            Eduardo Tavares (ex-professor...homenageado)

A CULPA É DO POSTE


Finalmente descobriram os culpados de tantas mortes no trânsito brasileiro. São postes que andam em alta velocidade, muretas bêbadas, buracos irresponsáveis, estradas com curvas traiçoeiras, camionetes arrogantes, drogas que atacam motoristas, telefones estúpidos. Alguns exemplos. Numa madrugada chuvosa uma garota habilitada a dirigir há poucos meses foi atingida por um poste que trafegava em alta velocidade. Seu pai  processou a prefeitura, responsável pelo poste. Outra noite, uma mureta, que ficou bebendo todas com o Laçador numa churrascaria, não conseguiu desviar de um Porsche que explodiu, provavelmente devido ao alto teor alcoólico da mureta. Em uma estrada com quatro pistas dois motociclistas foram traídos por uma curva que vinha a 190 km/h e acertaram uma viatura da Policia Rodoviária, matando os motociclistas e um policial. Uma enorme e arrogante camionete fez uma ultrapassagem em alta velocidade numa curva e atingiu um frágil carro popular matando o condutor, sua esposa e três crianças. O motorista da camionete nada sofreu. Um caminhoneiro precisava entregar uma carga e foi drogado pelo dono do caminhão para poder dirigir 3 dias, sem parar. Adormeceu e acertou um ônibus matando 28 pessoas. Dona Michelli trafegava tranqüila na sua camionete BMW blindada, com vidro fumê, quando foi atacada por seu telefone celular. Era Marilda, sua empregada, que não encontrava suas calcinhas sujas. “Marilda, estão na porta da direita, direeeita!!. Na ênfase, Dona Michelli, loura oxigenada, virou a direção bruscamente para a direita, subiu na calçada e passou por cima de uma velhinha. Celular estúpido. Há, também, um semáforo daltônico que enganou vários motoristas e provocou diversas colisões fatais. Suspeita-se, inclusive, que ele seja um serial killer. Realmente é um risco dirigir por aí com tantos perigos à nossa espreita.
ET

EU TENHO MEDO DA DILMA


Nesta eleição eu senti falta da Regininha, a Duarte, na televisão, declarando “Eu tenho medo da Dilma”. Imagino suas palavrinhas chorosas, diabéticas: “Gente eu estou com medo dessa Dilma ser presidente do meu querido Brasil. Imaginem, ela foi guerrilheira!!! O que fará com tanto poder? Começará seqüestrando a nossa poupança e deixando nossos velhinhos sem um tostão na conta. Roubará uma Vale do Rio Doce dos brasileiros para dividir com seus amigos terroristas. Eliminará o Bolsa Família para deixar os pobres mais miseráveis e se tornarem bons assaltantes. Acabará com os programas de Agricultura Familiar para criar focos guerrilheiros no campo. Nomeará o Maluf presidente do Banco Central. Irá nos endividar até o pescoço, fazendo obras superfaturadas, para trazer de volta o arrogante FMI.  Expropriará os latifúndios improdutivos para dar para os Sem Terra que teimam em ter terra para plantar. Junto com o seu colega terrorista Ahmadinejad vai produzir a bomba atômica para atacar os EUA e roubar seu petróleo. E, é claro, vai dar a Petrobrás para o Chaves salvar a Venezuela. Aaaaaaii que meeeeedo!!!!

ET

SANTINHO DO GOVERNADOR


            Corria o ano de 82, do século passado, e nós da Enfoco estávamos querendo uma grana extra. A Enfoco era uma pequena agência fotográfica, localizada numa casa antiga, de três andares, no centro, e consistia da associação do Daniel de Andrade, Pablo Fábian e este que vos narra. O Daniel, bem articulado, conseguiu fechar um pacote com o PMDB para fazermos as fotos dos santinhos de todos os candidatos do partido para a eleição daquele ano. Era um tal de entra e sai o dia inteiro aparecendo cada figurinha que nem o Zoológico de Sapucaia aceitava. Houve um que chegou todo arrogante, achando que já era vereador, reclamando até do espelhinho e do pente que nós oferecíamos gratuitamente para eles arrumarem a juba. Cagou tanta regra que o Daniel, delicadamente, pegou ele pelo cangote, deu umas porradas e o arrastou escada abaixo. Me parece que a carreira política dele acabou por ali. Mas tinha um candidato que era  aguardado por nós, ansiosamente: o governador. Se fizéssemos as fotos dele, o Sinval Guazelli, que era candidato a deputado federal, venderíamos tantas cópias que poderíamos tomar todas, durante um mês, no Doce Vida. A assessoria do palácio marcou suas fotos para as 18 horas de uma sexta feira. Passou as 18, 19 e às 20 horas nós já estávamos bebendo e fumando umas que outras no estúdio, certo de que ele não viria mais. De repente toca a campainha e Daniel desce e grita lá de baixo: - Adivinhem quem chegou? Era a dica para limpar garrafas e cinzeiros do estúdio para receber o Homem. Na subida o Dani empurrou o homem e seus acessores para a minha sala no segundo andar para nos dar tempo de preparar o ambiente. Acontece que as minhas paredes estavam forradas de fotos do Brizola e da policia do governo do Sinval baixando o pau no povão que lutava pelo fim da ditadura. Sua Excelência parece que não gostou, começou a tossir, dizendo que estava gripado e que voltaria outra hora, blá,blá,blá. Na hora, visualizamos nosso prejuízo e, sutilmente, sentamos o governador num banquinho e o metralhamos com dezenas de cliques. Parecíamos três macaquinhos em volta de um cacho de banana. No fim deu tudo certo. Ganhamos uma boa grana, o Sinval se elegeu deputado e brindamos muito no Doce Vida.
                                                                                        Eduardo Tavares